18.10.09

Viver

"E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."



Caio Fernando Abreu

Plano

Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor

que se despeja no copo da vida, até meio, como se

o pudéssemos beber de um trago. No fundo,

como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na

boca. Pergunto onde está a transparência do

vidro, a pureza do líquido inicial, a energia

de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta

são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa

da alma suja de restos, palavras espalhadas

num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira

hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,

esperando que o tempo encha o copo até cima,

para que o possa erguer à luz do teu corpo

e veja, através dele, o teu rosto inteiro.



Nuno Judice