22.2.11
20.2.11
O Arco
Que quer o anjo? chamá-la
Que quer a alma? perder-se
Perder-se em rudes guianas
para jamais encontrar-se.
Que quer a voz? encantá-lo
Que quer o ouvido? embeber-se
de gritos blasfematórios
até quedar aturdido.
Que quer a nuvem? raptá-lo
Que quer o corpo? solver-se,
delir memória de vida
e quanto seja memória.
Que quer a paixão? detê-lo.
Que quer o peito? fechar-se
contra os poderes do mundo
para na treva fundir-se.
Que quer a canção? erguer-se
em arco sobre os abismos.
Que quer o homem? salvar-se,
ao prêmio de uma canção.
Eu quisera ver o mundo
como o vê Sérgio Bernardo:
ver, no mundo, os muitos signos,
que vigiam sob as coisas.
Sentir, sob a forma, as formas,
os segredos da matéria
mais a textura dos sonhos
de que se forma o real.
Ver a vida em plenitude
e em seu mistério mais alto;
decifrar a linha, a sombra,
a mensagem não ouvida
mas que palpita na Terra.
Eu quisera ter os olhos
que assim penetram o arcano
e o tornam (poder da imagem)
um conhecimento humano.
Carlos Drummond de Andrade
Que quer a alma? perder-se
Perder-se em rudes guianas
para jamais encontrar-se.
Que quer a voz? encantá-lo
Que quer o ouvido? embeber-se
de gritos blasfematórios
até quedar aturdido.
Que quer a nuvem? raptá-lo
Que quer o corpo? solver-se,
delir memória de vida
e quanto seja memória.
Que quer a paixão? detê-lo.
Que quer o peito? fechar-se
contra os poderes do mundo
para na treva fundir-se.
Que quer a canção? erguer-se
em arco sobre os abismos.
Que quer o homem? salvar-se,
ao prêmio de uma canção.
Eu quisera ver o mundo
como o vê Sérgio Bernardo:
ver, no mundo, os muitos signos,
que vigiam sob as coisas.
Sentir, sob a forma, as formas,
os segredos da matéria
mais a textura dos sonhos
de que se forma o real.
Ver a vida em plenitude
e em seu mistério mais alto;
decifrar a linha, a sombra,
a mensagem não ouvida
mas que palpita na Terra.
Eu quisera ter os olhos
que assim penetram o arcano
e o tornam (poder da imagem)
um conhecimento humano.
Carlos Drummond de Andrade
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