21.7.11

RELIGIO MEDICI

Defende-me, Senhor. (O vocativo
Não implica Ninguém. É só uma palavra
Deste exercício que o enfado lavra
E que na tarde do temor cultivo.)
Defende-me de mim. Já o disseram
Montaigne e Browne e um espanhol que ignoro;
Algo me resta ainda de todo esse ouro
Que meus olhos de sombra recolheram.
Defende-me, Senhor, do impaciente
Desejo de ser mármore e olvido;
Defende-me de ser o já vivido,
O que já fui irreparavelmente.
Não da espada ou da vermelha lança
Defende-me, mas sim da esperança.

Jorge Luis Borges

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